Em 2025, a estética dominante entre jovens nas redes sociais parece ter feito uma curva fechada rumo ao passado recente: mais especificamente, aos anos de ouro do Tumblr entre 2013 e 2016. Cabelos descoloridos, selfies em baixa saturação, filtros granulosos e roupas oversized voltaram a dominar timelines e guarda-roupas, assim como os saltos com spike, blusas assimetricas, shorts e saias curtas com cintura baixa, fotos em L.A com o céu rosado, cafés gelados e o prorpio mustache, apontando para uma tendência clara: a nostalgia do início da década passada se tornou o novo presente.
A Era Tumblr e o Nascimento de uma Estética Digital Pop
Entre 2013 e 2016, a chamada "era Tumblr" não foi apenas uma fase de internet — foi um estado de espírito, marcado por uma sensibilidade visual e emocional que atravessava redes sociais, moda e música. A estética era suave, melancólica, cuidadosamente espontânea. No Instagram, os filtros clássicos — como Valencia, Amaro e Hudson — davam às fotos uma aparência desbotada, ensolarada ou nostálgica, criando uma paleta que parecia saída de um sonho ligeiramente triste. Cenas banais — céu nublado, janelas embaçadas, espelhos, xícaras de café — se transformavam em imagens cheias de significado silencioso.
Na trilha sonora desse período, o clima era semelhante: canções atmosféricas, com batidas suaves e vocais etéreos, que criavam uma sensação de distanciamento emocional. Músicas como Roses, do The Chainsmokers, e Cold Water, lançada por Major Lazer em parceria com Justin Bieber e MØ, capturavam esse tom perfeitamente — pop eletrônico com uma leveza melancólica que fazia parte do cotidiano online. Ao lado de artistas como Lana Del Rey, que personificava a estética do glamour trágico e romântico, essas faixas davam o tom emocional que preenchia timelines, edits e vídeos de transição com frases sobre amor, perda e existência.
Mais do que uma tendência, era uma linguagem — uma forma de organizar e expressar o mundo digital que privilegiava sensações suaves, tristeza estética e um certo desejo de desaparecer bonito. Agora, em 2025, esse código visual e sonoro ressurge como uma cápsula emocional da década passada, sendo reinterpretado com um novo olhar, mas com o mesmo desejo de sentir algo através da tela.
A Volta de uma Estética como Desejo de Autenticidade:
O que torna o retorno da estética de 2015 tão marcante em 2025 não é apenas a nostalgia — é o que essa estética representava em seu tempo: uma tentativa de parecer real em um ambiente digital que já dava sinais de saturação. Em 2015, as redes sociais estavam longe da hiperprodução visual de hoje. Fotos tiradas com o celular tinham granulação, enquadramentos imperfeitos e legendas vagas, quase crípticas. O Tumblr era o epicentro dessa linguagem: um espaço onde a vulnerabilidade visual e emocional era convertida em curadoria estética. Mesmo o pop mainstream acompanhava esse movimento com videoclipes e músicas que soavam íntimas, quase caseiras, mesmo quando feitas para milhões. O Tumblr não era apenas uma rede social, mas um refúgio, um diário público onde a imperfeição e a autenticidade eram celebradas. Não havia o peso da expectativa de viralizar ou de se encaixar em uma fórmula; ali, o simples ato de ser genuíno parecia ser o que regia as tendências.
Essa autenticidade — ou, pelo menos, a sensação dela — regia a maior parte das tendências daquele período. Era um tempo onde a beleza residia na imperfeição, onde o emocional era exposto de forma suave e até poética, e onde os filtros do Instagram não escondiam falhas, mas as realçavam com tons quentes, frios ou opacos. Era cool parecer espontâneo, mesmo quando tudo era cuidadosamente editado. Mas o importante é que não parecia um anúncio, não parecia uma campanha — parecia um diário visual coletivo.
Já em 2025, após uma década de feeds hipercurados, filtros realistas, algoritmos controlando alcance e uma estética digital cada vez mais limpa e "profissional", existe um cansaço visível. É nesse contexto que a estética de 2015 ressurge, agora como forma de protesto visual contra a artificialidade. Vídeos no TikTok recriam efeitos de câmera antiga, usam legendas desalinhadas, colorações vibrantes ou lavadas e sons lo-fi. Os looks voltam a parecer "menos pensados" — mesmo que sejam cuidadosamente planejados — porque o objetivo agora é parecer mais humano, mais acessível, mais real.
Rever 2015 em 2025 é como buscar uma brecha no ruído da internet atual. É tentar voltar a um tempo em que a conexão parecia mais direta, mais íntima. Onde as pessoas ainda postavam porque queriam compartilhar e não apenas performar. Esse movimento não é só nostálgico — é estratégico. É uma tentativa de recuperar a sensação de intimidade e autenticidade que parece ter se perdido no caminho. O Tumblr, com toda sua bagunça encantadora e crua, representava essa liberdade de ser verdadeiro sem a necessidade de validação constante. Em 2025, esse vazio — esse "espaço perdido" — está sendo preenchido por um resgate visual e emocional da década passada, que busca recuperar a essência da internet em seu estado mais puro, longe da perfeição impecável das redes sociais de hoje.